"E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas." (Mateus 7:28,29). Observe que os ouvintes de Jesus fizeram uma clara distinção entre o Mestre e os escribas. A diferença estava na questão da autoridade. Cristo sabia o que estava falando; os escribas, não.
Quando falamos em autoridade neste mundo, logo pensamos nas pessoas que, pelo estudo e pela prática, tem mais conhecimento em alguma área específica: "doutor fulano é a autoridade em cirurgia no joelho; doutora beltrana é a autoridade em cirurgia plástica" etc. Infelizmente percebo que este conceito encontrou espaço também nas igrejas. Já assisti muitas pregações de pessoas cheias de conhecimento bíblico, no sentido da letra, usando vários termos teológicos para construir os argumentos mais diversos; já vi muitos debates e mensagens de gente que conhece datas, períodos históricos e inúmeras características do grego, do hebraico e do aramaico; e nessa toada, ouve-se doutor pra cá, mestre pra lá, formado aqui, formado acolá.
Mas afinal, de onde vem a autoridade para falar de Deus?
Será que foi do acúmulo de títulos universitários e diplomas que o Senhor estava falando quando disse: "O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento;" (Oséias 4:6)? Podemos ter certeza que não. Há um tempo atrás vi um homem dizer que duvidava que uma pessoa pudesse compreender um determinado trecho da Bíblia sem uma faculdade de teologia. Às vezes a confiança no estudo é tão grande que supera o limite do absurdo e chega às raias da loucura. Se isso que o referido senhor disse fosse verdade, onde estaria a "simplicidade que há em Cristo" (2 Coríntios 11:3), da qual o apóstolo Paulo fala? Detalhe: o assunto aqui era justamente pregação do evangelho. Infelizmente muitos estão falando de Jesus e da Sua Palavra tirando autoridade dos livros e dos seminários. Hoje em dia, até do conteúdo sem filtro da internet. Isto explica em parte a mornidão espiritual de muitas igrejas cristãs; também contribui para entendermos um pouco a incapacidade de muitos evangélicos de testemunhar que Jesus está vivo para o seu próximo.
Como testemunhar o Jesus que andava com os pobres e doentes se eu não ando com os pobres e doentes? Como provar que o Jesus que cura está vivo se eu confio é na ciência médica? Como falar do Jesus que expulsa demônios se eu não os confronto? Aqui vai uma impressão pessoal, sem o desejo de ofender: se o endemoninhado gadareno, ou a mulher encurvada, ou mesmo a mulher siro-fenícia (que sofria com a filha perturbada), encontrasse os doutores de hoje na rua, qual seria o fim da história? Será que seriam curados e libertos, voltando para casa felizes pelo milagre recebido? Receio que não. É mais próximo da nossa realidade dizer que seriam dispensados, cheios de sofrimento, após uma conversa empolada, com um estudo bíblico debaixo do braço. Aqui cabe a pergunta: é isso que Jesus faria?
Os quatro evangelhos estão aí para provar que não.
Não penso que o conhecimento deve ser desprezado. Usado por Deus, o apóstolo Paulo disse: "E, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência;" (2 Coríntios 11:6). É sabido que ele era um homem culto mas que não se apoiou em sua sabedoria humana para pregar a Palavra de Deus. O ponto é que a autoridade para testemunhar de Jesus Cristo não vem dos muitos estudos e conhecimentos de números, idiomas etc. A autoridade para falar das coisas de Deus vem do Espírito Santo. Sem Ele, não há doutor nem mestre que leve uma alma sequer aos pés do Salvador. A fonte do poder, da autoridade, da unção do servo de Deus é o Seu Espírito. Quando Ele age, "(...) os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho." (Mateus 11:5). E quem está vendo percebe a diferença entre quem serve a Jesus com autoridade, sabendo do que está falando, e quem faz hoje o que os escribas faziam no passado.
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